Conversar faz bem para a saúde
Uma cena corriqueira nos dias de hoje é encontrarmos pessoas juntas e ao mesmo tempo separadas, com os olhos fixos nos seus respectivos celulares. De tão comum, esta cena não chama mais a atenção de ninguém. Virou rotina nos restaurantes, bares e cafés.
Resultado: há menos conversa presencial, “olhos nos olhos”. Muitos podem argumentar que não veem nenhum problema nisto, posto que se o objetivo for conversar com outra pessoa, tanto faz se este diálogo acontecer na forma real ou virtual.
Mas não é tão simples assim, basicamente por duas razões principais:
- A primeira delas reside no fato de que conversar virtualmente, por meio de mensagens nas plataformas digitais, nos tira a oportunidade de ouro de reconhecer o outro pelas expressões corporais que, muitas e muitas vezes, espelham de uma maneira muito mais realística a verdadeira essência das ideias que aquela pessoa quer exprimir. Em outras palavras, a expressão facial não mente. Ao contrário, é capaz de revelar o verdadeiro conteúdo que, por qualquer razão, se deseja omitir.
- A segunda razão baseia-se no fato de que conversar com alguém nas redes sociais, ou no Whats pode significar conversar com um personagem criado pela pessoa, e não com a pessoa real, cheia de defeitos e imperfeições.
A consequência deste diálogo virtual vazio e sem o componente humano faz com que sentimentos como empatia, compaixão ou solidariedade fiquem mais difíceis de ser vividos e, por conseguinte, tornam-se menos intuídos ou aprendidos.
O sentimento de solidão presencial pode ser uma das razões pelas quais algumas morbidades estejam crescentes nos dias de hoje. Não espanta, portanto, que o distúrbio de ansiedade atinja hoje, segundo estudos, mais ou menos 300 milhões de pessoas no mundo. As causas para a crescente ansiedade contemporânea são, sem dúvida, multifatoriais. Mas a sensação de solidão certamente compõe a gama de fatores desencadeantes.
Conversar presencialmente, portanto, faz bem para a saúde. Aprendemos a nos conhecer melhor com os outros, nos identificamos com seus problemas, exercitamos a capacidade de expressar nossos sentimentos de uma forma mais sincera e, principalmente, somos quase que “forçados” a ouvir pensamentos e ideias divergentes das nossas. Este aprendizado nos faz melhores pessoas quando entendemos que respeitar divergências pode engradecer o espírito.
A sabedoria popular nos diz que “quem canta seus males espanta”. Quem conversa certamente também consegue “espantar” muitos e muitos males.